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terça-feira, 30 de março de 2021

A NATUREZA HUMANA DA TÉCNICA

 José Ortega y Gasset, filosofo espanhol é um dos primeiros pensadores a elaborar uma reflexão sobre a criação e o desenvolvimento da técnica pelo ser humano, colocando-a como fator essencial para a evolução humana. Ortega começa discorrendo sobre a falta de clareza na definição de sociedade Por parte dos autores de sociologia, e começa a fazer uma comparação entre a forma de viver dos animais e do ser humano apresentando o que é grande diferença que há é a qualidade humana de introspecção ou de mundo interior, intitulado por Ortega como “ensimesmar-se”, argumentando que os animais de forma geral vivem para o mundo exterior e desta forma vivem para o outro nunca para si próprio pois dependem exclusivamente desse mundo exterior. 

O ser humano com esta característica pode se desligar do mundo exterior e realizar essa introspecção porém isto não é como um direito ao homem mas é algo que ele Conquista e o homem cria então uma margem de segurança ao seu redor para desenvolver essa característica de voltar-se assim de forma segura e essa capacidade, e então de introspecção que gera a técnica  então esta é uma criação humana especificamente humana e é graças a ela e na medida do seu progresso que o homem pode ensimesmar-se. Desta forma, permite ao homem que submerja no mundo para atuar conforme um plano preconcebido, não se pode falar de ação, sem que na sua medida esteja regida por uma prévia contemplação, pois o destino do homem é portanto primeiramente essa, isto é não vivemos para pensar pensamos para viver, Ortega afirma “Sin retirada estatégica a sí mismo, sin penamiento alerta, la vida humana es imposible.”
A técnica possibilitou a humanização, segundo Ortega, o ser humano cria o supérfluo para humanizar-se. Isto é o que possibilitou que o homem se voltasse para o seu interior, porém hoje a técnica parece impossibilitar este voltar a sí, pois parece não estimular a reflexão, mas a distração, e assim poderíamos estarmos perdendo a humanidade? Talvez este seria o perigo da técnica, perder a capacidade de voltar a sí mesmo, de ensimismarse.  

            Porém, se compreendermos que o desenvolvimento da técnica, e agora compreendendo o desenvolvimento tecnológico, a partir do que Ortega propõe, a evolução do homem não seria apenas do uso da técnica que lhe permitiu a desenvolver a sua humanidade, e que agora permite o controle da natureza, inclusive a natureza humana, mas uma futura fusão mais radical do homem com a tecnologia?
            A afirmações de Ortega permitem que olhemos o desenvolvimento da técnica como algo fundamental para o desenvolvimento do homem, porém fica o desejo de aprofundar-nos mais no pensamento do filósofo para compreendermos todas as implicações com relação ao desenvolvimento tecnológico do ser humano.


Referências:
GASSET, José Ortega y. Mediación de la técnica. Madri: Biblioteca Nueva, 2015.

sexta-feira, 26 de março de 2021

Sentido da Vida - Reflexões primeiras.

 


Algum tempo  havia sintetizado algumas reflexões na seguinte frase:

“Melhor não ser, do que ser, porém depois que se é, melhor é ser do que não ser.”

Porém a questão ainda me incomodava justamente pela pulsão de vida que acompanha o ser, faltava entender melhor a razão de ser e o sentido para a vida. Buscava uma resposta imanente e não transcendente ou religiosa, uma que respondesse filosoficamente a questão. Bem para isso precisava limitar a resposta ao fenômeno concreto, sem especulação transcendental, assim é necessário aceitar o dado posto, há vida, isto é evidente, um fato. Aqui entra então o objetivo da vida, porém perguntar pelo objetivo da vida já parece ser algo transcendental, que exigiria uma resposta religiosa, porém podemos simplificar e apenas ficar nos fatos concretos, e sendo assim a resposta é simples, o objetivo da vida é a manutenção da própria vida. Todo o organismo é estruturado para a manutenção da vida e reprodução, isto é, manutenção e perpetuação da vida. O princípio básico da vida satisfaz a todos os animais, que buscam, usando o preceito do utilitarismo, fugir da dor e buscar o prazer. Em linhas gerais a manutenção da vida é a função de todo aparelho biológico, satisfeito de modo primário na busca da alimentação, procriando e fugindo de predadores. Menos para a espécie humana. Os seres humanos desenvolveram um cérebro mais sofisticado que possibilitou a consciência e o desenvolvimento da inteligência, e, desta forma as características para a satisfação da vida se ampliou. O ser humano então passa a ter uma narrativa, é um ser histórico e desta forma busca dar sentido a sua história, precisa encontrar um significado que lhe satisfaça. Apesar das necessidades básicas, alimentar-se, procriar e proteger-se, para o ser humano a satisfação destas não é mais suficiente, apesar de ainda serem as básicas.

A partir destas ideias podemos refletir a consequente teoria da dignidade humana que pode ser descrita na garantia do desenvolvimento pleno das condições humanas para que este atinja o seu potencial desejado, como sentido de realização de vida. Isto posto o direito da realização pessoal, é o sentido de dignidade humana, dignidade da vida humana.  No ser humano o sentido da vida vai além da manutenção biológica para atingir a compreensão de sentido de história pessoal, por isso também a responsabilidade individual pelo seu sentido de vida, e coletivo para proporcionar a todo indivíduo esta possibilidade.

Cabe ainda compreender se essa capacidade evolutiva foi um acerto ou um grande erro, por um lado capacitou a espécie humana a dominar, garantindo a manutenção e propagação da espécie, gerou uma maior possibilidade de alimentação com menor esforço, e reduziu o risco de predadores. Por outro lado, tornou o outro da sua própria espécie um predador potencial, coisa rara nos outros animais. Acarretou a busca por sentido da vida, e a angústia existencial perante a finitude, além de provocar um desequilíbrio ecológico.

Obviamente estas são reflexões iniciais e não sistematizadas, é preciso aprofundar e submeter à critica para verificar se tem um fundamento e se pode ser ampliada. A princípio me satisfaz como uma resposta filosófica para o sentido da vida.