Reproduzo abaixo a avaliação de um texto que elaborei sobre esta assunto. É um material um pouco antigo e infelizmente não tenho o texto que deu origem a argumentação, mas há um resumo que deixa claro a argumentação do mesmo.
Texto : Embrião tem alma?
O texto em avaliação discorre sobre a possibilidade
de um diálogo entre a ciência e a fé abordando a questão da utilização de embriões
para as pesquisas de células tronco.
A partir da pergunta o embrião tem alma?, faz-se incialmente uma avaliação das
correntes teológicas medievais onde se apresenta três vertentes a criacionista,
traducionista e preexistencialista e no decorre do texto insere-se a concepção
do teólogo Paul Tillich através da definição de unidade multidimensional da
vida : biológica, relacional e espiritual. A partir daí se argumenta que a alma
não é formada fora do circulo das relações humanas, e sim a partir do “seio materno” (salmos 139) nas
relações humanas que, “a alma, fio que ata os demais fios da vida humana, virá
a ser tecida pelo Criador”.
Por conclusão o texto é finalizado dando a entender
que a pesquisa com células-tronco tem legitimidade, deixando claro que o feto
nunca deve ser tratado como coisa ou produto.
Avaliação pessoal.
Em princípio meu posicionamento é contra o uso de
embriões para a pesquisa com células tronco, assim como qualquer outra
manipulação com embriões. Abaixo faço uma argumentação com relação ao texto
lido.
Como não podemos definir exatamente quando o embrião
passa a ter alma, se no momento da fecundação ou depois do 14 º dia ou ainda
em algum momento no decorrer da vida, este acaba sendo um ponto irrelevante.
Qualquer afirmação sobre esta questão estaria contaminada por uma percepção
pessoa ou simples especulação. Desta forma a questão se o embrião tem alma, não
deveria ser um ponto para se propor a manipulação do mesmo para o uso de
células tronco.
O risco de encontrarmos respostas teológicas para
apoiarmos algumas ações humanas que desta forma mais ficam “leves” é um risco
que já observamos no decorrer história. Foi assim quando na escravidão muitos
religiosos e teólogos afirmavam que o negro não tinha “alma” e desta forma a escravidão não tornava-se um mal em si.
Outro ponto que se apresenta saliente no texto é a sugestão de que a
formação da alma se dá na construção da relação e no desenvolvimento da pessoa.
Nesta definição fica, do meu ponto de vista, um pouco difícil separar ou até
identifica o que seria alma da psique,
uma vez que está sim tem uma formação no decorrer da história da pessoa e da/na
construção dos relacionamentos.
Há três formas em que se tenta justifica a
possibilidade da manipulação de fetos ou do próprio aborto, uma pela via
biológica, outra pela filosófica e outra pela via teológica, sendo estas
traduzidas pela questão do início da vida, outra pelo conceito de pessoa e por
fim a questão da “implantação” da alma. Todavia nenhuma chega a contento com
relação a suas afirmação, haja vista não podermos de fato determinar um ponto
exato da qual identificamos o início da vida, também face a não conseguirmos
justificar os critérios que são aplicados para a identificação do ser humano
como pessoa ao feto uma vez que comparados a um ser humano de idade adulta, e
tampouco a via teológica é embasamento uma vez que extremamente especulativa e
com pouca sustentação bíblica.
O próprio salmo dá a entender que Deus tem planos
para o feto em formação :
16. teus olhos viam o meu embrião
No teu livro estão todos inscritos os dias que foram
fixados e cada um deles nele figura.
Não consigo conceber a idéia de Deus vendo no futuro
daquele ser ainda que informe, a possibilidade da sua “manipulação”.
Entendo que as pesquisas com células tronco
embrionárias podem trazer muitos benefícios, mas, entendo também que devemos
nos pautar pela pergunta : Ainda que possamos, será que devemos? Hoje o fato de
poder, i.e., ter condições tecnológicas e cientificas para executar uma ação
parece que torna-se automaticamente como uma autorização para fazer. Sabemos
que a bioética é pautada por um refletir antes de agir, mesmo que tais técnicas
se apresentem extremamente sedutoras com seu canto de felicidade, que assim
como as sereias se nos deixarmos nos encantar com tais melodias, podemos sucumbir ao mar indômito.
É claro que o olhar da bioética deve se dar a partir
da situação real em si e que cada caso é um caso, porém, assim como em hipótese alguma para mim esta situação é um
caso encerrado, o diálogo é vital para a bioética, penso que deve haver um
cuidado muito especial pela dignidade do embrião. Penso que a procura de
“definições” para o feto é um problema criado para se justificar sua
manipulação e que a partir destas aberturas corremos o risco da expansão destes
“conceitos” para outros tipos ou raças de pessoas.
Roberto Rohregger.
Nenhum comentário:
Postar um comentário