Fazendo a leitura da Teologia Sistemática de Paul Tillich, deparei-me com a questão da alienação como hybris, conceito esse muito profundo e bem explorado pelo autor. Mas o que me leva a escrever é um texto que encontrei no livro de C. G. Jung, “Psicologia e Religião Oriental”, onde Jung faz sua análise comparando os conceitos entre o pensamento religioso Ocidental e Oriental, e citando Kierkegaard, afirma[1]:
“(...) “o homem está sempre em falta diante de Deus”. O homem procura conciliar os favores da grande potência mediante o temos, a penitência, as promessas, a submissão, a auto-humilhação, as boas obras e os louvores. A grande potência não é o homem, mas um totaliter aliter, o totalmente outro, absolutamente perfeito e exterior, a única realidade existente. Se modificarmos um pouco a fórmula e em lugar de Deus colocarmos outra grandeza, como por exemplo, o mundo, o dinheiro, teremos um quadro completo do homem ocidental zeloso, temente a Deus, piedoso, humilde, empreendedor, cobiçoso, ávido de acumular apaixonada e rapidamente toda a espéciede bens deste mundo tais como riqueza, saúde, conhecimento, domínio técnico, prosperidade pública, bem-estar, poder político, conquistas etc. Quais são os grandes movimentos propulsores de nossa época? Justamente as tentativas de nos apoderarmos do dinheiro ou dos bens dos outros e de defendermos o que é nosso. A inteligência se ocupa principalmente em inventar “ismos” adequados para ocultar seus verdadeiros motivos para conquistar o maior número possível de presas.”
Jung faz uma descrição que não há como negar representa o homem moderno ocidental, e o que é pior ainda, muitas vezes parece com o típico evangélico que encontra na acumulação e demonstração destas conquistas como bênçãos de Deus. Mas Jung fala de uma substituição da “grande potencia” pelo mundo ou dinheiro. Apesar dos conceitos diretos ou indiretos não serem em tese os mesmos, não fica difícil de fazermos aqui uma ponte com relação ao conceito de alienação de Tillich, quando o ser humano afasta-se da centralidade de Deus, e assume a sua própria centralidade e tenta conquistar a sua onipotência. Os itens enumerados por Jung, nada mais são do que degraus para que o ser humano dentro da sua alienação tente alcançar a infinitude, ou seja tente alcançar a sua própria deificação. Tillich afirma[2] :
“Todos os seres humanos alimentam o secreto desejo de serem como Deus e todos agem de acordo com isso em sua auto-avaliação e auto-afirmação”.
É quando o ser humano tenta se auto afirmar através das suas conquistas para suprir a sua necessidade de infinitude que ocorre a sua alienação.
Esta necessidade de infinitude aponta para Deus, que é eterno, e do qual devemos participar. Não é possível preenchermos esta angustia de outra forma, alias todas as outras formas são destrutivas e alienantes ao ser e por isso “demoníacas”.
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