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sábado, 19 de maio de 2007

Qual a resposta cristã para a crise ambiental?

A reflexão teológica e as concepções históricas do pensamento cristão estão constantemente passando por reflexões, transformações, reinterpretações e contextualizações da mensagem dos Evangelhos. Estas constantes reinvenções teológicas normalmente se estabelecem dentro de um contexto histórico-social, onde o pensamento e o conceito de sociedade conceito de sociedade merecem e/ou de uma interpretação cristã da realidade e que deve ser feita de maneira critica e criteriosa, não necessariamente dogmática, mas dialeticamente cristã.

A grosso modo dividi em 5 grandes temas em que seria possível a inferência teológica :

- Ética

- Capitalismo (não como objeto de estudo da economia, mas seus reflexos no pensamento e ação do indivíduo e suas conseqüências sociais.)

- Existencialismo - a questão do ser.

- A ontologia

- O Ser de Deus.

Apesar de que em menor ou maior grau (salvo alguns itens) todos podem ser relacionar e algumas vezes correlacionar. Há um tema que sempre foi objeto de alguma preocupação da minha parte e transpassa a todos os demais.

A crise ambiental pelo qual estamos começando a passar é antes de tudo um problema ético, com impactos diretos no modelo capitalista moderno, implicando em profundas alterações comportamentais, que pode mudar a forma de entendermos a realidade e claro sendo um problema humano encontraremos reflexos no entendimento do Ser de Deus.

Porém podemos afirmar que está crise é um problema teológico?

Para tentarmos fazer esta ponte podemos dizer que na atual conjuntura, se os índices de aumento da temperatura mundial continuar correspondendo às expectativas dos cientistas, suas conseqüências serão desastrosos para manutenção da vida humana. Desta forma o ser humano, ou melhor, dizendo a humanidade será confrontada com sua possível extinção, ou seja, a destruição de toda a vida no planeta terra, transformando este problema em uma questão existencial com reflexos existencialistas, passando como já havíamos dito por problemas éticos, e também filosóficos e religiosos, além é claro de científicos/tecnológicos, e consequentemente por interrogações teológicas.

Assim sendo penso ter justificado então que este também é um problema teológico, merecendo suas reflexões e opiniões.

Temos aqui uma justificação para utilizarmos as ferramentas e métodos teológicos para examinarmos a questão ecológica, porém falta-nos agora o fundamento bíblico.

É claro que não apresentaremos inferências com relação as questões cientificas, apenas utilizaremos suas conclusões para visualizarmos um quadro mais completo do problema.

O que nos interessa aqui é: 1. entendermos o problema atual (suas causas e conseqüências) . 2. verificarmos se há alguma orientação bíblica com relação ao problema ecológico. 3. definir a posição que o cristão e a igreja deve adotar.

Há um conceito que perpassa todo o discurso de Cristo que é conceito de Basiléia tou theon – que é o reinado de Deus.

A Ecologia e a Bíblia

Mas qual a responsabilidade do cristão com relação a ecologia?

Apenas para fundamentarmos a necessidade e urgência de uma crítica cristã com relação ao descaso com o meio ambiente citamos Gênesis 1.24-31

A CRIAÇÃO DOS SERES VIVOS

24 E disse Deus: Produza a terra seres viventes segundo as suas espécies: animais domésticos, répteis, e animais selvagens segundo as suas espécies. E assim foi.

25 Deus, pois, fez os animais selvagens segundo as suas espécies, e os animais domésticos segundo as suas espécies, e todos os répteis da terra segundo as suas espécies. E viu Deus que isso era bom.

26 E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos, e sobre toda a terra, e sobre todo réptil que se arrasta sobre a terra.

27 Criou, pois, Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criaram.

28 Então Deus os abençoou e lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos; enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra.

29 Disse-lhes mais: Eis que vos tenho dado todas as ervas que produzem semente, as quais se acham sobre a face de toda a terra, bem como todas as árvores em que há fruto que dê semente; ser-vos-ão para mantimento.

30 E a todos os animais da terra, a todas as aves do céu e a todo ser vivente que se arrasta sobre a terra, tenho dado todas as ervas verdes como mantimento. E assim foi.

31 E viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom. E foi a tarde e a manhã, o dia sexto.

A palavra em evidência aqui é dominar que significa em hebraico

radah

1) governar, ter domínio, dominar, submeter

1a) (Qal) ter domínio, governar, subjugar

O primeiro termo é governar, em seguida dominar, e em terceiro ponto submeter.

Para entendermos melhor o significado desta palavra vamos aprofunda-las um pouco mais:

Governar: 1. dirigir pais, estado etc. 2. administrar 3. controlar, conduzir 4. orientar-se por 5. cuidar de seus interesses.

Dominar: 1. exercer poder ou influencia sobre (algo ou alguém) 2. estar acima de 3 conhecer (algo) 4. reprimir(-se)

Submeter: 1. (fazer) obedecer 2. render-se 3 tornar objeto de.

Pelos significado que acabamos de enumerar notamos o gral de importância que o significado de submeter tem.

Até a pouco tempo poderíamos olhar o significado de submeter ao de usar os recursos naturais em benefício próprio, ou seja o ser humano tendo a natureza para servi-lo, aos seus desígnios. Bem em parte esta interpretação está correta e até condizente com o que o texto bíblico nos relata.

Porém hoje podemos afirmar que está é uma visão reducionista e egoísta do termo dominar, se entendemos que este conceito está correlacionado com administrar.

Bem aqui temos dois conceitos que aparentemente estão em conflito:

- O primeiro seria o conceito de Deus como providente. Deus como sendo aquele que está sob a direção do Universo. Que tem tudo sob controle.

- Outro é o indicativo de que estamos caminhando para um período de grandes perturbações ecológicas com reflexos na economia, em conflitos (guerras, êxodo etc...) sociais (o sofrimento de grande parte da população), a extinção de grande parte da flora e fauna, e um risco acentuado da extinção do próprio ser humano.

--- Pessoalmente já vivenciei períodos em que este alerta para com relação destruição do ser humano, ocasionado por ele mesmo já ocorreram.

Desde a 2ª guerra mundial, a guerra convencional ( ou seja aquela em que pode ocasionar um dano restrito) deixou de ser a única opção para o desejo de destruição do individuo. No próprio desenrolar da querra foram projetadas construídas armas muito eficientes e com alto grau de desenvolvimento tecnológico (ver Luftwaffe secret projects), as V2, V3 etc.... Mas nenhuma arma deu um poder tão grande ao homem como o advento da bomba atômica, o grau de destruição foi maximizado com o advento da fissão do átomo. Mas não parou por ai, cada vez foram construídas armas com um poder maior, veio a bomba de hidrogênio, e o arsenal mundial destas armas possibilitou que o ser humano a façanha de poder destruir o mundo 5 vezes.

Lembro-me que durante a década de 80, iniciou-se campanhas e debates para a redução do armamento atômico mundial, e em meados da década de 90 saiu um filme intitulado “ O Dia Seguinte”, que relatava um cataclisma nuclear, a maior parte do filme ocorria nas conseqüências para os sobreviventes de uma guerra nuclear. Assim que este filme foi lançado no Brasil fui assistir. Sai do cinema profundamente abalado, com a absoluta certeza que, ocorrendo uma guerra atômica o melhor que poderia me acontecer seria morrer em uma explosão, porque o dia seguinte para os que sobrevivessem seria muito pior.

Bem com o advento da queda do muro de Berlim, e o fim da guerra fria este fantasma de destruição ficou mais brando.

Porém conseguimos criar outro “O aquecimento global”.

Na verdade então quando disse que pontos conflitantes entre a soberania de Deus e os eventos que estão ocorrendo, há um elemento faltante nesta equação, o ser humano. Como vimos no texto bíblico que foi lido, cabe ao ser humano a administração deste planeta.

Não cabe neste momento entrarmos em discussões teológicas com relação aos atributos divinos e o livre arbitro do homem, mas sim nos atermos ao tema objeto desta palestra.

Bem até aqui, creio que consegui fundamentar com certa consistência a relevância teológica que o assunto tem, o que nos possibilita passarmos para o segunda parte :

O que é o efeito estufa? O que o aquecimento global tem haver com isso e qual seu impacto para o planeta terra.

As informações abaixo foram tiradas do site do Estadão – Matéria especial Efeito Estufa.

1 - O que é o efeito estufa?

Alguns gases presentes na atmosfera da Terra, como o dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4) e o vapor d’água têm a propriedade de deixar passar a luz do Sol que chega ao nosso planeta, mas de bloquear os raios infravermelhos gerados quando essa luz aquece a superfície. Com isso, a Terra deixa de devolver ao espaço parte da energia que recebe. Esse é o chamado efeito estufa.

2 - E o que há de mal nisso?

Embora um pouco de efeito estufa seja necessário para manter a temperatura da Terra em níveis confortáveis para a maioria das formas de vida – incluindo seres humanos -, a industrialização acelerada, a partir do século 19, vem jogando cada vez mais CO2 na atmosfera da Terra, o que tende a aprisionar cada vez mais calor em nosso planeta.

3 - Isso já aconteceu em algum outro lugar?

No Sistema Solar existe um exemplo de efeito estufa descontrolado: o planeta Vênus, onde a alta concentração de CO2 da atmosfera mantém a temperatura da superfície alta o suficiente para derreter chumbo. Em Vênus quase não existe água, e as nuvens são de ácido sulfúrico. O calor é tanto que, quando chove – ácido – as gotas evaporam antes de tocar o solo.

4 - O que pode mudar ainda neste século?

Embora a transformação da Terra em um novo Vênus ainda não conste nem das previsões mais pessimistas, não seria necessária uma mudança tão radical para que os efeitos do aquecimento global venham a ser prejudiciais para a ecologia em geral e para a humanidade, em particular. Entre as possibilidades levantadas por cientistas, estão o degelo do Oceano Ártico, por volta de 2040, e a transformação de amplas regiões, incluindo a Amazônia, em desertos até o final deste século.

5 - O que se pode fazer a respeito?

O CO2 que chega à atmosfera por atividade humana vem, principalmente, da queima de combustíveis como a gasolina e o carvão. Reduzir o uso desse tipo de energia é importante, mas há controvérsias quanto à melhor forma de fazê-lo: se impondo limites em lei, estimulando o desenvolvimento de novas tecnologias ou adotando alternativas já existentes, como a energia nuclear. Cada idéia tem críticos e defensores.

6 - Onde posso encontrar mais informações?

IPCC
http://www.ipcc.ch

Organização Meteorológica Mundial
http://www.wmo.ch/

Goddard Institute for Space Studies (Nasa)
http://www.giss.nasa.gov/

Hadley Centre
http://www.metoffice.gov.uk/research/hadleycentre/

Greenpeace
http://www.greenpeace.org.br/

Após esta breve explicação podemos passar então para o próximo passo da nossa discussão :

O que podemos e devemos fazer?

Bem como havia dito no inicio desta apresentação o problema ambiental passa pela questão ética, existencial, econômica e teológica.

Primeiramente como cristãos temos que ter uma posição e uma cosmovisão bíblica correta face ao bom uso dos recursos naturais. Hoje a humanidade já utiliza 20% a mais do que o planeta consegue recuperar, ou em outras palavras estamos sim destruindo a nossa casa.

Temos que entender que o modelo econômico atual (falo do capitalismo extremado) é extremamente danoso, não somente para o planeta terra, mas também para o indivíduo, o exesso de consumismo, a idolatria por bens de consumo, o alto grau de competitividade em que somos impelidos está destruindo as mais básicas estruturas de convívio social.

Mas disso tudo podemos tirar uma pergunta, que nos remete a questão ética.

Queremos continuar a história humana? Aqui ainda podemos fazer um complemento: Se queremos, em que níveis de dignidade esperamos que ela continue?

Sempre há uma pequena alternativa salvadora para os detentores do poder, seja financeiro e ou político, é sabido que as populações que sentirão o maior impacto do aquecimento global são as com menores recursos, os prognósticos de guerras e êxodos que possam ocorrer pelo desequilibro ecológico são muito grandes.

Por fim mas como não poderia deixar de ser a pergunta ética nos remete a uma questão teológica:

Nós como cristãos estamos obedecendo a Deus no que tange ao cuidado com o planeta?

E em que grau é essa nossa responsabilidade?

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