A Revelação
O sentido da palavra revelação é descobrir, retirar o véu, descobrir-se, e em Sl 103.7, Ex. 6.3, Nm 12 6-8 e Ez 20.5 usam as formas passiva ou reflexiva do verbo yada‘, “conhecer”, ra’â, “ver” e a forma intensiva do verbo dabar, “falar”. O hebraico não possui um substantivo que signifique “revelação”; possui o verbo galâ, “revelar”. A raiz ocorre cerca de 180 vezes no Antigo Testamento. Ela contém dois conceitos básicos: “desvendar” “revelar” e “ir para o exílio”.
A palavra galâ é empregada predominantemente no Antigo Testamento no sentido de “ir embora”, “ser aberto” (Jr 32 11, 14). Em alguns casos refere-se à revelação do próprio Javé.
A revelação obrigatoriamente dá-se da parte de Deus para o homem.
Para entendermos isto melhor, o fato do ser humano não conseguir a revelação de Deus por sua própria força ou vontade, citamos o exemplo contido do livro Fundamentos da Teologia Cristã .
Um menino de dois anos de idade, cujo pai tenha um cérebro como o de Einstein pode conhecer o pai num relacionamento agradável de pai e filho. Esse conhecimento é o que importa. Entretanto, o menino poderia compreender muito pouco do que está na mente do pai, por mais que este tente explicar em palavra para ele. Há limites para o que uma criança de dois anos de idade, por mais carinhosa que seja, possa captar. Em nosso relacionamento com nosso Criador, somos com crianças muito pequenas diante dele. Nós o conhecemos de maneira plena e rica, pois ele nos ama, demonstrou o seu amor nos remindo e ainda o demonstra nas misericórdias diárias; ele abriu os braços e o coração para nós e fala-nos ainda por meio da Bíblia. Intelectualmente, porém Deus permanece de todo misterioso para nós em alguns pontos e mais ou menos misterioso em todos os pontos.
O antigo testamento fala com freqüência em “ conhecer” (yd‘) ou “ não conhecer” Javé ( Is 1.3; jr 2.8; 4.22; 31;34; Os 2.20; 4.1,6; 5.3-4; 6.6; 13.4). O
conhecimento no Antigo Testamento é bem diferente de nosso entendimento do termo. Para nós, conhecimento implica compreender coisas pela razão, analisar e buscar relações de causa e efeito. No Antigo Testamento conhecimento significa “comunhão”, “familiaridade intima com alguém ou algo”. Falando em nome de Deus a Israel, Amós disse:
De todas as famílias da terra
a vós somente conheci;
portanto, todas as vossas injustiças
visitarei sobre vós. (Am 3.2)
Vriezem disse que o Antigo Testamento faz do “conhecimento de Deus” a primeira exigência da vida, mas jamais explica o significado do termo. O propósito da revelação divina não é declarado especificamente no Antigo Testamento.
O conhecimento de Deus é mais que um mero conhecimento intelectual: diz respeito à vida humana como um todo.
È essencialmente uma comunhão com Deus e é também fé; é um conhecimento do coração que exige o amor do homem (dt iv); sua exigência vital é que o homem aja de acordo com a vontade de Deus e ande humildemente nos caminhos do Senhor (Mq vi. 8). É o reconhecimento de Deus como Deus, a rendição total a Deus como Senhor.
Os Meios da Revelação
A revelação geral.
Os meios tradicionais de revelação geral são três: a natureza, a história e a constituição do ser humano. A própria Escritura propõe que existe um conhecimento de Deus a que se chega por meio da ordem física criada. O salmista diz : “Os céus proclamam a glória de Deus” (Sl 19.1). E Paulo diz: “os atributos invisíveis de Deus, assim como o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das cousas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis” (Rm 1.20).
O segundo meio de revelação geral é a história. Se Deus está atuando no mundo e move-se em direção a certos alvos, deve ser possível detectar o curso de sua obra nos acontecimento que ocorrem como parte da história. Um exemplo muito citado de revelação de Deus na história é a preservação do povo de Israel. Essa pequena nação vem sobrevivendo ao longo de séculos, em ambientes basicamente hostis, muitas vezes em face de severa oposição. Quem investigar os registros históricos encontrará um padrão notável. Alguns encontram grande significado em eventos isolados da história, por exemplo, a desocupação de Dunquerque e a batalha de Midway na II Guerra Mundial. Acontecimentos isolados, no entanto estão mais sujeitos a divergência de interpretações que o curso mais largo da história, tal como a preservação do povo especial de Deus.
O terceiro meio de revelação geral é a suprema criação terrena de Deus, o próprio homem. Às vezes, a revelação geral de Deus é vista na estrutura física e na capacidade mental dos homens. È, porém, em suas qualidades morais e espirituais que se percebe melhor o caráter de Deus. Os humanos fazem julgamentos morais, ou seja, julgamento sobre o que é certo ou errado. Isso envolve mais do que nossa preferência pessoal – gostar ou não gostar - e mais que mero utilitarismo. Com freqüência sentimos que devemos fazer algo, seja-nos isso vantajoso ou não, e que outros têm o direito de fazer alguma coisa da qual, pessoalmente,não gostamos.
A revelação geral também é encontrada na natureza religiosa da raça humana. Em todas as culturas, em todos os tempos e lugares, os homens vêm crendo na existência de uma realidade superior a si mesmos, e até em algo superior à raça humana como um todo.
A revelação Particular de Deus.
Por que a revelação especial é necessária? A resposta está no fato de que os homens perderam o relacionamento de favor com Deus, que possuímos antes da queda. Era-lhes necessário que viessem a conhece-lo de maneira mais plena para que pudessem voltar a preencher as condições para a comunhão. Esse conhecimento precisava ir além da revelação inicial ou geral que ainda estava à disposição deles, pois então, juntamente com a limitação natural da finitude humana, também havia a limitação moral do pecado humano. Após a queda, a raça humana estava afastada de Deus e em rebelião contra Ele; seu entendimento das questões espirituais esta obscurecido. Desse modo, sua situação estava mais complicada do que era originalmente e, por conseguinte, era preciso uma instrução mais completa.
Os Meios da revelação especial
Os eventos históricos
A Bíblia destaca toda uma série de acontecimentos divinos pelos quais Deus se faz conhecer. Da perspectiva do povo de Israel, um evento básico foi o chamado de Abraão, considerado pai da nação. A provisão divina de Isaque, como herdeiro, sob condições bem improváveis, foi outro ato divino significativo. A provisão de Deus em meio à fome que reinou na época de José beneficiou não apenas os descendentes de Abraão, mas também outros moradores de toda a região.É possivel que o acontecimento principal para Israel, ainda celebrado pelos judeus, tenha sido o livramento do Egito, mediante uma série de pragas que culminou na Páscoa na travessia do mar vermelho. Todos estes são atos de Deus e, portanto, revelações de sua natureza. Os que aqui citamos são espetaculares ou miraculosos. Os atos de Deus não se limitam, no entanto, a tais acontecimentos. Deus vem agindo tanto nestas ocorrências maiores como também em eventos mas rotineiros da história de seu povo.
O Discurso Divino
A revelação no Antigo Testamento é principalmente histórica, porém outro grande meio de revelação é o discurso divino. No Antigo Testamento a palavra (discurso) de Deus ocupa um lugar de destaque como meio divino de comunicação com seu povo, entendo que até de forma a direcionar a história, para os objetivos de Deus. Uma expressão muito comum na Bíblia e, em especial no Antigo Testamento, é a declaração: “Veio a mim a palavra do Senhor, dizendo...” ( Jr 18.1; Ez 12.1, 8, 17, 21, 26; Os 1.1; Am 3.1). Os profetas tinham consciências de que a mensagem deles não era de criação própria, mas de Deus.
No Antigo Testamento a palavra é dinâmica , poderosa, uma força que “ocorre” ou sobrevém a alguém.
Teofanias e epifanias.
Outro meio que Deus se faz conhecido é pelas suas aparições (teofanias/epifanias). Adão e Eva ouviram o som de Deus andando no jardim no frescor do dia (Gn 3.8). O Senhor apareceu aos patriarcas Abraão, Isaque e Jacó (Gn 15.1-21; 17.1-21; 18.33; 26.2-5, 24,; 28.12-16; 32.24-32).
Bem próximos das teofanias e/ou epifanias estão os relatos de aparições de aparições de Deus a pessoas em visões e sonhos, no anjo do Senhor, em sua face, seu nome ou sua glória, esses veículos, tecnicamente conhecidos por teologômenos, são as “representações” da divindade em sua natureza real, mas jamais plenamente revelada.
A Revelação de Deus para nós continua ocorrendo.
Pesquisando os meios de revelação de Deus, constamos que é realmente destas formas que Deus revela-se, inicialmente maravilhamo-nos com a natureza, com assuntos relacionados a astrofísica, física quântica, teorias do tempo e espaço, toda esta ordem do universo levava-nos a crer que exista algo maior um “grande relojoeiro”, estamos vendo Deus através da sua criação. Mas faltava-nos algo ainda, então passamos para uma fase de espiritualidade experimentando várias religiões e seitas esotéricas, dando vazão à alma, ouvindo conceitos morais e espirituais, mas ainda assim não estamos completos, ainda há um questionamento interior que não se cala. Mergulhamos na filosofia e Nietzsche, com sua crítica ao cristianismo e seu anuncio da “morte de Deus”, junto a Schopenhauer com seu pessimismo crítico, com suas visões míopes, afastam-nos de Deus. Mas apesar de tudo não conseguimos conceber um universo sem um início e propósito. Somente quando, em um evento histórico de nossas vida, Jesus entra em nossos corações Deus revela-se para nós e faz morada em nosso espírito. De todo o tempo que passamos procurando a Deus pela nossa própria capacidade obtivemos apenas revelações parciais e não raras vezes confusas, apenas quando Deus revela-se permitindo o relacionamento, é que todo o nosso ser, (intelectual e espiritual) pode obter tranqüilidade, paz e profunda felicidade.
Autor : Pr. Roberto Rohregger